Meio de informação e divulgação, aberto à iniciativa e participação da comunidade, procurando difundir a actividade local entre 22 de Junho de 2007 a 1 de Outubro de 2013. Obrigado a todos os 75.603 leitores.

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Jul 08

 

Igreja Românica de S. Gens de Boelhe (M.N.) 
 
HISTÓRIA  
 
A julgar pelos vestígios descobertos na região, o território que hoje compõe a freguesia de Boelhe terá sido povoado desde tempos imemoriais. Para corroborar esta afirmação contribui o facto de, junto ás margens do Tâmega, estudos arqueológicos terem identificado um povoado romano, com dois edifícios isolados. Estamos a falar das ruínas da Bouça do Ouro, situadas no lugar de Passinhos, que podem ter constituído " uma das alternativas possíveis para a instalação da populações que (...) abandonaram [o Castro de Monte Mozinho] nas primeiras décadas da segunda metade do século I d.C." (SOEIRO, 1998: 11). Para a fixação das populações neste território terá contribuído, certamente, a proximidade de recursos naturais, como o rio, e a localização num vale protegido de ventos.
 
Igreja Românica de S. Gens de Boelhe (M.N.) 
 
No séc. IX, após a superação de pestes, fomes e invasões que arrasaram a centúria anterior, o norte de Portugal inicia um processo de recuperação, por ex., ao nível da organização política e do repovoamento. Como consequência, nasce, na encosta sobranceira aos rios Douro e Tâmega, a "Civitas de Anaegia", um vasto território jurídico e administrativo independente, que englobava a quase totalidade do actual concelho de Penafiel. A partir deste período, a densidade populacional aumentou continuamente, dando origem a novos aldeamentos.
No decorrer do séc. XI, procedeu-se à fragmentação do reino em "terras", que eram cedidas a um senhorio e organizavam-se em lugares ou aldeias, julgados e concelhos, paróquias e dioceses.
Dois séculos depois, o julgado de Penafiel já abrangia a paróquia de São Genésio de Boelhe, anteriormente conhecida por "Bunili". Foi entre os últimos decénios de séc. XII e os primeiros anos do reinado de D. Sancho I, que ocorreu, pelas suas características construtivas, a fundação da Igreja de S. Gens. A sua construção ou, pelo menos, o pensamento inspirador que originou o monumento tem sido conjecturalmente atribuído a D. Mafalda de Sabóia, mulher de D. Afonso Henriques, ou pode ter sido uma das inúmeras igrejas construídas pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho de Vila Boa do Bispo com o intuito de propagar e consolidar a fé cristã (DGEMN, 1950).
A principal documentação relativa à freguesia encontra-se registada nas Inquirições de 1258, no Arrolamento das Paróquias de 1320, no Cadastro da População de 1527, no Censual de Mitra de 1524 e nas Memórias do Mosteiro de Paço de Sousa de 1592.
Administrativamente, a freguesia de Boelhe está associada aos primórdios do concelho de Penafiel.
 
Panorâmica do lugar de Outeiro e Ponte do Canal (Rio Tâmega)
 
GEOGRAFIA
 
Boelhe é uma das 38 freguesias que compõem o concelho de Penafiel, distrito do Porto, sub-região do Tâmega (NUT III) e região do norte de Portugal.
Esta freguesia fica na margem direita do rio Tâmega, um afluente do rio Douro, e encontra-se a cerca de 12 km da sede do concelho. Situa-se a meio da encosta da Serra do Esporão, no limite leste do concelho e é limitada pelas freguesias de Luzim, Peroselo, Cabeça Santa e Rio de Moinhos, assim como por terras do concelho de Marco de Canaveses.
Boelhe abrange uma área de aproximadamente de 5,1km2, representando 2,4% do total do município de Penafiel. Aqui reside cerca de 2,6% da população do concelho o que implica uma densidade populacional de aproximadamente de 360 habitantes por km2, que se revela acima da média geral do concelho. Entre 1991 e 2001, a densidade populacional de Boelhe aumentou 3,8%.
Os solos desta freguesia caracterizam-se pelas serras quartzíticas, que orientadas, predominantemente, no sentido Nordeste-Sudeste, geram formas rígidas nos solos.
A variedade geomorfológica é grande, sendo os principais grupos rochosos constituídos por: quartzitos, grauvaques, granitos e xistos paleozóicos. Estes materiais pelas suas características originam solos férteis.
Em termos climáticos, Boelhe enquadra-se no clima atlântico com influência mediterrânica. A precipitação média anual e a amplitude térmica são elevadas. Apesar de a temperatura ser, geralmente, amena, a temperatura mínima é baixa ao longo de todo o ano e a nebulosidade frequente.
Ao nível de vegetação, a freguesia, tal como a generalidade do Vale de Sousa, define-se pela existência de diversos habitats, com destaque para "as áreas de pinhal e/ou eucaliptal, as áreas agrícolas e as linha de água, onde podem ser encontrados diversos tipos biológicos. (...) Dominam o carvalho alvarinho, o negral, o pinheiro bravo, muitas espécies de urze e de tojo e o feto comum" (GOMES, s. d.:12).
A conjugação do tipo de clima, com a humidade, a altitude, os solos e a rede hidrográfica favorecem a desenvolvimento de culturas intensivas, com destaque para a vinha, milho, batata e feijão (GOMES, s.d.: 10-12).
 
MARCOS HISTÓRICOS
 
1. Ruínas Arqueológicas da Bouça do Ouro
 
O sítio romano da Bouça do Ouro fica no lugar de Passinhos, numa quinta particular.
O episódio destas casas é muito idêntico ao material recolhido no Castro de Monte Mozinho (povoado castrejo da época romana, fundado no século I d.C., situado nas freguesias de Oldrões e de galegos), que oscila entre o castrejo evoluído e as peças romanas de época flávia (SOEIRO, 1998:7-8).
A equipa de arqueólogos identificou duas construções isoladas. O edifício denominado A, " de planta romana, construída com técnica de oscila entre os padrões indígenas e os romanos, utilizava por gente que dispunha no dia a dia de materiais também idênticos aos dos níveis sincrónicos do castro, pode dar-nos uma resposta concreta ao esvaziamento que se conhece em Mozinho, ou seja, exemplifica uma das alternativas possíveis para a instalação das populações que o abandonaram nas primeiras décadas da segunda metade do século I d.C., optando por uma nova relação com o território, que talvez só agora lhes fosse consentida, mas trazendo consigo todo um saber fazer acumulado por gerações" (SOEIRO, 1998: 11).
A segunda casa da Bouça do Ouro foi designada de B. O espólio do edifício é escasso, encontra-se em mau estado de conservação e enquadra-se entre o século I e III/IV d.C.
Os dois edifícios, pelos vestígios arqueológicos, "são de concepção arquitectónica bastante diferente, mas usam na sua construção meios e atributos de igual valia, se tivermos em conta apenas a etapa correspondente do século I d.C., quando ambos foram construídos e habitados. Olhando para o espólio também não vemos diferenças de riqueza ou de condição de vida"(SOEIRO, 1998: 19).
A população que se fixou neste local, provavelmente, é aquela que, a partir de meados do século I d.C., saiu de castros como o Mozinho e outros semelhantes. "Quem para aqui veio [Bouça do Ouro] seria portador de uma ergologia em tudo semelhante à de quem ainda lá ficou [Monte Mozinho]. Mas partiu, para se fixar num local isolado e desprotegido, quando antes vivia numa povoação aglomerada e fechada" (SOEIRO, 1998: 22).
Com a consolidação da integração no mundo romano, a população organizou-se em novas formas de habitar, tipificadas em lugares abertos e concentrados, rodeados por terras de lavoura, ou em casais dispersos na paisagem agrícola como ilustram as casas postas a descoberto na Bouça do Ouro.
 
2. Igreja de S. Gens (M.N.)    
 
Igreja Românica de S. Gens de Boelhe (M.N.)
 
No período inicial da vida nacional, enquanto D. Afonso Henriques realizava combates pela conquista de território, a sua mulher, D. Mafalda de Sabóia, participava na propagação da fé cristã. Pois, naquele tempo, as rainhas participavam na edificação ou reconstrução de instituições religiosas, tendo em vista a protecção divina para o seu marido, do qual dependia o futuro do reino e o seu próprio futuro. D. Mafalda de Sabóia esteve associada à construção de diversas intituições religiosas, geralmente, de beneficência à população pobre e, algumas delas, próximas da região onde se localiza a Igraja de S. Gens (DGEMIN, 1950: 5-6).
Associado a este dado está o facto de se encontrar algumas conexões entre esta Igreja e a da Póvoa de Mileu de D. Mafalda mandou edificar. Assim, podemos colocar a hipótese de D. Mafalda ter sido a responsável pela construção ou, pelo menos, o pensamento inspirador que originou o monumento (DGEMN, 1950: 6).
No entanto, levantam-se algumas questões:
  - A mulher de D. Afonso Henriques morreu em 1157 e a fundação de Igreja da Boelhe ocorreu, segundo as suas características construtivas, entre os últimos decénios do século XII e os primeiros anos do reinado de D. Sancho I. Apesar disso, encontram-se muitas semelhanças entre a Igreja de S. Gens e a de Rio-Mau. Esta é uma igreja de maior antiguidade situada no concelho de Vila do Conde, "a qual, sendo porventura de origem romana, deve o seu actual aspecto, segundo se afirma, a uma reedificação efectuada nos primeiros anos do reinado de D. Afonso Henriques, pouco depois da Batalha de Ourique" (DGEMN, 1950: 7).
  - Para a influência da rainha D. Mafalda na edificação da Igreja contribuiu, igualmente, o facto de S. Gens ser o orago (santo padroeiro). À época, este santo era praticamente desconhecido fora da sua região de naturalidade, o sudeste de França, e esta era uma região próxima do lugar onde D. Mafalda viveu os primeiros anos da infância (Sabóia). Como explicar então a homenagem prestada na Igreja " a um santo que ninguém, ou quase ninguém, conhecia aquém dos Pirinéus, e cujo culto só alguns séculos depois devia transpor diversas fronteiras provinciais da antiga França?" (DGEMN, 1950: 8).
Uma outra hipótese pode ser colocada. No último quartel do século X, um povoado próximo de Boelhe foi cristianizado, depois de expulsos os muçulmanos, por "Múnio Viegas, o Gasco (o reconstrutor do velho burgo do Porto), auxiliado por seu irmão, o bispo D. Sisenando" (DGEMN, 1950: 8). Alcançado este triunfo, Múnio Viegas construiu um mosteiro que oferecer aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, entre eles D. Sisenando.
Um dia, quando esse bispo celebrava uma missa na igreja do mosteiro, um bando de mouros que, ainda, ai habitava assaltou o povoado, entraram na igreja e mataram os fiéis que assistiam à missa e D. Sisenando, perante tal ira, caiu morto junto do altar. "Depois de memorável drama, foi realmente com o sangue de tal nobre mártir que se baptizou esse povoado longínquo. A «Terra Boa» dos Moiros passou a denominar-se «Terra Boa do Bispo»" (DGEMN, 1950: 9). Depois da vitória de Ourique, quando D. Afonso Henriques visitou o mosteiro de Múnio Viegas, surgiu e generalizou-se uma outra designação, Vila Boa do Bispo.
Com a entrada, em 1136, de D. Afonso Henriques na "terceira ordem" do cónegos regrantes de Santo Agostinho e até ao reinado de D. Dinis, o mosteiro de Vila Boa do Bispo progrediu, auxiliado pelo aumento da propagação da fé, após a morte de D. Sisenado. A conjugação destes acontecimentos, permitiu aos sacerdotes de Santo Agostinho fundar igrejas, capelas e ermidas em diversos lugares da região (DGEMN, 1950: 10-11).
Deste modo podemos questionar se a Igreja de S. Gens não terá nascido de tal diligência? Para corroborar tal suposição contribuiu o facto " de ter pertencido aos monges de Vila Boa do Bispo (...) o direito de apresentação na Abadia de Boelhe" (DGEMN, 1950: 10).
No entanto, as dúvidas persistem, pois esse direito de apresentação pode ter "sido adquirido directamente pelos conventuais de Vila Boa, ou por intermédio eventual doador" (DGEMN, 1950: 10), como podia ser o caso da rainha D. Mafalda.
 
Descrição do edifício (DGEMN, 1950: 11-15)
 
Igreja Românica de S. Gens de Boelhe (M.N.) 
 
A Igreja de S. Gens é " um pequeno monumento que é, sem dúvida, entre os da sua categoria, um dos mais e melhor testemunham a fé, o alto nível espiritual, a capacidade criadora e civilizadora daqueles que fizeram a Pátria Portuguesa" (DGEMN. 1950: 22).
Trata-se de um monumento nacional, inscrito na Rota do Românico do Vale de Sousa. A arte românico, desenvolveu-se entre os séculos XI e XII, tendo sido aplicada, fundamentalmente, à construção de igrejas, abadias e mosteiros, traduzindo a enorme religiosidade das populações.
"A arte foi influenciada pela arte romana: as coberturas dos edifícios eram em abóbodas; predominavam os arcos de volta perfeita e a planta de cruz latina.
As principais características deste estilo são: aspecto pesado (tipo fortaleza), grossas paredes de granito, contrafortes exteriores, grossas colunas interiores, arcos de volta perfeita com esculturas de formas bíblicas e outras figuras simbólicas.
As construções românicas eram fortalezas, servindo de lugares de defesa. A obscuridade interior dos edifícios reflectia o ideal de espiritualidade medieval, de silêncio e de meditação" (GOMES, 2006: 15).
 
3. Capela do Souto
 
Situa-se na Casa do Souto, construída, provavelmente, entre os séculos XII e XIII( NUNES e CARVALHO, 2003).
 
4. Capela da Granja
 
Situa-se na Quinta da Granja e foi construída em 1725. Foi recentemente objecto de beneficiação e melhoramentos. (NUNES e CARVALHO, 2003).
 
5. Capela de S. Miguel de Passinhos
 
Situa-se no lugar de Passinhos, freguesia extinta em 1853, e atribui-se a sua construção por volta do século XVIII. A principal festividade ocorre na altura do 13 de Maio com as celebrações da Festa em Honra a Nossa Senhora de Fátima. (NUNES e CARVALHO, 2003).
 
6. Casa do Eiró
 
Encontra-se no lugar do Eiró e foi edificada em 1837 (NUNES e CARVALHO. 2003).
 
7. Alminhas da Bairros (construídas no século XIX).
 
8. Igreja Paroquial (início da construção em 1900). (NUNES e CARVALHO, 2003).
 
9. Nicho de Nossa Senhora Imaculado Coração de Maria (edificado em 1990).
 
10. Parque Urbano Padre Serra (construído em 2004).
 
11.Casa de Bairros (NUNES e CARVALHO, 2003).
 
12.Casa dos Aidinhos (NUNES e CARVALHO, 2003)
 
13. Largo do Calvário 
 
14. Moinho de água e Cruzeiro (Paço)
 
15. Parque fluvial, em Passinhos.
 
Este espaço dispõe de mesas para a realização de piqueniques, parque de jogos para futebol de praia, balneários e bar de apoio e recreio fluvial.
 
16. Paço, Residência e Centro Paroquial.
 
FOTOS
 
 
Largo da Arca e Parque Urbano
Largo do Calvário
 
 
Margem do Rio Tâmega, Lugar de Passinhos
 
 
Igreja Românica de S. Gens de Boelhe, Monumento Nacional
 
 
Paço, Residência e Centro Paroquial
 
FESTIVIDADES
 
  • 3 de Fevereiro – Festa a S. Brás (Domingo)
  • Celebrações da Semana Santa e Visita Pascal (Domingo de Páscoa)
  • 1º Domingo de Maio (Dia da Mãe) – Primeira Comunhão e Festa do Imaculado Coração de Maria
  • 13 de Maio – Festa a N. Sr.ª de Fátima (Domingo)
  • Último Domingo de Julho – Festa do Senhor e do Santíssimo Sacramento (Comunhão Solene)
  • Última Semana e 25 de Agosto – Festividades Maiores ao Padroeiro S. Gens e N. Sr.ª do Rosário
  • Celebrações do Natal
  • Festa da Família c/ celebração Bodas Matrimoniais de Ouro e Prata e das crianças baptizadas (último Domingo de Dezembro) 
 
 
Beiral do Paço 
 
COLECTIVIDADES
 
  • Futebol Clube de Boelhe
  • Associação Columbofilia de Boelhe
  • Associação Desenvolvimento Freguesia de Boelhe
  • Grupo de Jovens de Boelhe
  • Movimentos Paroquiais
Bibliografia
 
CANEDO, Flávia, MONTES, Rafael e LOPES, Luís Belo (2003), o Cantar da História, Associação Coro Gregoriano de Penafiel, pp. 14-25.
 
DGEMN (1950), "Igreja de S. Gens de Boelhe", in Boletim da direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais nº 62, Lisboa, Direcção Geral Dos Edifícios e Monumentos Nacionais,
 
GABINETE DE PROJECÇÃO E DIVULGAÇÃO DAS CULTURAS DE PORTUGAL (s. d.), Portugal Séc. XXI, o Nosso País (CD-ROM).
 
GOMES, Maria Cândida (2006), Rota do Saber – Património do Vale do Sousa, disponível em www.adersousa-rrvs.com/work/313.pdf  
 
GOMES, Paulino (s.d.), Vila de Rio de Moinhos, Paços de Ferreira, Anégia Editores.
 
“A NOSSA TERRA: BOELHE” in http://boelhe.blogs.sapo.pt  
 
Registos Paroquiais, Igreja de S. Gens de Boelhe
 
Associação Desenvolvimento Freguesia de Boelhe - http://www.adboelhe.com/ 
 
NUNES, Isabel e CARVALHO, João (2003), Freguesia de Boelhe 2003, Junta de Freguesia de Boelhe (panfleto)
 
SOEIRO, Teresa (1998), "o Sítio Romano de Bouça do Ouro, Boelhe" in Cadernos do Museu nº 4, Penafiel, Museu Municipal.   
 
publicado por a nossa terra às 15:27


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